quinta-feira, 23 de outubro de 2014

ATÉ NO AMOR "A SORTE ESTÁ NO PÉ"

Babadjema que não via a namorada desde Domingo, estava-se numa quarta-feira, ligou para dizer que estava mortinho de saudades e que passasse lá por casa, à hora habitual, para matarem saudades que mal morrem ressuscitam logo. Como não tinha nada para fazer, sai uma hora antes do fim do período laboral para ir ao cabeleireiro de sempre para cortar o cabelo à escovinha, uma das suas imagens de marca. Chegado à casa, envia uma mensagem ao seu amor a anunciar a chegada. Como não respondesse, telefona. O telemóvel não estava disponível. Começa a inquietar-se , mais um dia em branco em perspectiva. Recorda que ela havia avisado que o aparelho estava com problemas. Passa pelas brasas. Desperto e para matar o tempo, procura pôr a leitura em dia através das imperdíveis revistas portuguesas Visão e Sábado, trazidas da casa de uma amiga, cujo marido viaja para a Europa como se fosse “caminho de pé”. O tema de capa da Sábado era, nem de propósito, “Conversas Privadas de Mulheres Sobre Sexo”, protagonizadas por três pares de mulheres que falam quase de tudo: traição, fantasias, “one night stand” (relações de uma noite), orgias, sítios mais estranhos para fazer sexo, acessórios, tabu, “ménage à trois” (sexo que envolve três ou mais pessoas), homem ideal… Esperançado na vinda a qualquer momento da namorada, Babadjema não arreda pé. Como se encontrava na varanda, o mais leve barulho vindo da porta, levantava-se sobressaltado para se certificar. O coração aos pulos. Tamanha a expectativa de um fim de dia e princípio de noite cinco estrelas. Nada. Passou assim a tarde, entre a leitura sumarenta e o desassossego emocional pela ausência da namorada. Para o mal dos seus pecados a espera resulta em nada porque a sua pequena não dava sinais de vida. Aí pelas 20 horas, janta esparguete num restaurante próximo de casa. Com a barriguinha bem nutrida, resolve vaguear um pouco pelas ruas escuras e esburacadas de Bissau. É surpreendido pela chuva numa estacão de serviço na companhia de um amigo recém-casado e duas raparigas estrangeiras, de origem guineense, bem catitas, tudo no sítio, prontas a trincar. Ficaram à conversa até que a chuva amainou, tendo aproveitado a aberta para rumarem à casa de Babadjema. Como preâmbulo, Tomaram refrescos na copa. O amigo de Babadjema, por sinal muito ousado e assanhado como poucos, toma pela mão a mais alta, a mais boa e perturbadora das duas e condu-la a sala de estar. Era o comandante da operação, visto o Babadjema não as conhecer de lado algum. Acabavam-se de se conhecer. Mas que tinha de fazer algo para não parecer um desmancha-prazeres, tinha. Manda às urtigas a sua secular timidez, convidando para a varanda a miúda que havia restado, de estatura baixa, vergando umas saias a matar, que a tornavam, de resto, irresistível. Puxam pela língua mais para quebrar o gelo. Não dizem coisa com coisa. Desconversam dada à circunstância, como diria o saudoso Bá Ferro, grande jogador de futebol e dançarino. Babadjema sacode o nervoso miudinho que o consome as entranhas, avança com pequenas carícias na face dela. Tenta dizer algo de inteligente, espirituoso até. Tropeça nas palavras. Gagueja. Ainda assim, assesta-lhe uns beijinhos. Não reage mal. “Muito bom sinal”, diz de si para si. Podia seguir o seu caminho, mas não sem antes de se inteirar da situação do amigo. Constata, com satisfação, que já se encontravam no quarto de hóspedes. Regressado à procedência, convida a amiga a sentar-se no seu colo, o que ela faz sem cerimónias. Aí então os seus dedos ganham um fulgor inusitado, esquadrinhando-a de lés a lés e fazendo vénia reverencial à rainha. As suas bocas se unem num beijo apaixonado e beijam-se e beijam-se que nem dois esfomeados há muito perdidos nas profundezas do deserto de Saara. O Estádio Boca de Lobo estava à espera, fofinho. Quando se preparavam para fechar a porta e atirar com tudo para o chão, eis que o amigo e a sua amiga saem do quarto com caras de poucos amigos. “Mau sinal”, pensa Babadjema, incrédulo. Um balde de água fria que o Babadjema e a amiga de ocasião não se esqueceriam tão cedo. “Que grande desperdício!”, clamam em uníssono e em surdina os seus corações arrebatados. Há dias assim… No dia seguinte, o amigo telefona a contar o que se tinha passado. Namorara a moçoila a torto e a direito. Despira-a, beijara-a como só ele sabia, espraiá-la os seus dedos atrevidos em toda a extensão desse paraíso humano. Quando se preparava para atirar, depois de tudo mirado, eis que a ouve pronunciar, como que da boca do diabo: “sou virgem”. Com os diabos!

ADEUS JORNALISMO

O que começou por mero acaso do maktub, nunca antes imaginado, sequer desejado, rejeitado pela família, amigos e próximos, tímido, hesitante, caindo gota a gota no goto extasiando-me para a vida, apesar dos pesados pesares do teso inveterado, escravo conivente, próprios do jornalismo guineense. Desprezado por uns, admirado por outros, valeu a pena. Não a pena ditada pelo juiz em causa própria. Do alfa do simples acaso do destino à consciência do despertar para o ómega do jornalismo nasce a iluminação para a necessidade do abraçar de novas causas. Causas não menos extasiantes, causas não menos gratificantes. Obrigado família, amigos, críticos, admiradores, detractores… Estamos juntos. A nova luta começou. Que valerá a pena, valerá como sempre. Certamente, certamente. P.s.: “Catchu ki tarda misti bua se bu falal ahaaaaaaaaaaaaaa, la ki ta sibi bua.” “Ave, já de si ávida de voar, se espantada, voa a bem voar e com muito gosto”, dito guineense.