domingo, 20 de novembro de 2011

JÁ NÃO HÁ HOMENS

No meu tempo de Mansoa brigar era o pão nosso de cada dia. Era, por assim dizer, o nosso desporto favorito. Andar aos murros era sinónimo de "matchundade", um verdadeiro rito de passagem para a idade adulta. Todos os machos dignos desse nome eram obrigados a lutar para se afirmarem socialmente. Praticava-se o jogo limpo. A luta não passava de "luto lambo bu bate" ( a agora denominada luta livre), com socos e pontapés à mistura. Não se podia fazer recurso aos dentes. Seria batota pura e dura; o que desenhonraria o infractor e o deixaria mal visto aos olhos dos espectadores. Pois, morder não era coisa de homens, considerava-se. Consequentemente, estava-se à vontade. Podia-se lutar à vontade dias a fio sem consequências de maior. Ninguém morria por lutar. Aliás, só se morria no engraçado jogo de "lambo bu bate" se os feiticeiros metessem lá a sua colherada; o que raramente acontecia. Era toma lá um soco e dá cá outro. Agarra-me, que eu te agarro. Vamos lá a ver quem é o mais forte, o mais inteligente, o mais resistente. Era divertido o jogo. Um jogo praticado por homens corajosos sem maldade, por homens às direitas.
Hoje, já não é mais assim. Todo o mundo se acobardou; pior, virou assassino. A "defesa" é que está a dar (o que equivale a dizer, faca, lâmina, garrafa, até pistola e tudo). Ai de quem não tenha uma nos tempos que correm. Com efeito, já não se brinca, lutando. Agora lutar é um jogo de vida ou morte. Perdeu piada a coisa.
Noutro dia estava eu na Chapa de Bissau junto à Photo Arco Íris à espera de tocatoca (transporte colectivo urbano). Um dos ajudantes de um dos tocatocas acabadinhos de aí estacionar para apanhar passageiros desatou a discutir com um moço que se encontrava na paragem. O moço aparentava uma confiança de super-homem e era todo sorrisos nervosos: « chega só aqui, que eu dou cabo de ti num abrir e fechar de olhos», desafiou o ajundante. Este, não menos confiante, pelo menos assim me pareceu, fazia prever com o seu argumentário uma luta de touros. Mal avançou na direcção do seu oponente, este, para meu espanto, voou célere que nem um louco à caça de uma garrafa. Que cobardolas, disse, com desprezo, para os meus botões. Que jogasse limpo, como no meu tempo de Mansoa, e logo se veria quem era o mais forte, o mais inteligente, o mais resistente.
Assim vão os estímulos e reacções na minha terra. Razão tinha Dale Carnegie, autor norte- americano de livros de auto-ajuda, que aconselhava a "NÃO DISCUTIR" (no seu caso, por outras razões. Do seu ponto de vista, não adianta discutir porque o ser humano é Ilógico e Contraditório). E na nossa Guiné, por razões óbvias, há que evitar o mais possível, não vá o diabo tecê-las. Os Homens de verdade lutam desarmados.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

BUNGA BUNGA

Roupas arrancadas à pressa
à força da paixão
espraiam-se pela casa
pairam no céu do tecto quais núvens
ganham vida
pássaros de bom agouro feitos
esvoaçam
sobrevoam o quarto
refrescando que nem ventoinhas os corpos suados a potos
tremor de cama
vítimas sem necessidade de socorro
benditas réplicas bunga
opostos unidos
boca na boca
saliva saliva
línguas em diálogo
banana maça
gelado pote de mel
ganha ganha
bunga bunga

Lx, 13/11/2011

CÁ ENTRE NÓS

Rostos sem rosto
Feitos flores
Espinhos à janela emoldurados
Os outros mirados nas tintas
Indiferença
Oh santa indiferença
Ninguém é ninguém
O corre corre
O trabalho escravizante sem esperança
A crise do povo
Glória dos "artistas"
Corta-se-lhe o cabelo
Arranca-se-lhe uma orelha
As duas pernas já agora
Desdentam-no
Tudo para o seu próprio bem
Para o bem do povo

Rostos sem rosto
Corações de feiticeiro
Semeiam crises
Pregam pensamento único de que não há alternativa
Colhem os frutos.